O dia amanheceu com previsão de 80 aa 90% de chuva e acertaram completamente: saímos do hotel debaixo de uma chuva razoável, que evoluiu rapidamente para um toró dos bons. Fizemos um breve passeio de ônibus à cúpula que resistiu à bomba atômica, ouvimos a guia falar dos motivos de Hiroshima ter sido escolhida como alvo (tempo bom no dia, ter terreno plano e um número de habitantes que servia para o estudo dos efeitos da primeira bomba atômica). Passamos por um castelo, mas não paramos - estava fechado por causa da chuva. Hiromi-san, a guia, explicou que a cidade tem muitos prédios novos porque foi destruída na guerra, e que grande parte dos castelos que nós visitamos são reconstruções, pois os antigos foram derrubados por bombas (bombas normais). Chegamos no museu da paz (como um museu que fala da guerra pode se chamar museu da paz? é pura novilíngua...) e, como eu já saí do Brasil com a resolução de não fazer este passeio, eu e Fred atravessamos a ponte e fomos nos abrigar da chuva numa Starbucks que fica no prédio da NHK, televisão japonesa, em frente a um templo cheio de cerejeiras floridas, que despetalavam devido à chuva.
Tomamos capuccino (ele) e caramel (eu), conversamos sobre a guerra, seus motivos, suas conseqüências e a ironia de falarmos nisso tudo em um Starbucks. Os americanos destruíram e ajudaram a reconstruir - nos seus termos - e a cultura americana foi assimilada pelas novas gerações a um ponto de um dos nossos companheiros de excursão afirmar que devia ser obrigatória a visita no museu para as escolas, para que os jovens compreendessem o que aconteceu e não consumirem tanto o american way of life.
Perguntei a Fred se os americanos foram processados por crimes contra a humanidade por conta da bomba atômica e ele disse "não, Tela, eles ganharam a guerra." A História é sempre escrita pelos vencedores, não é? A guia afirmou que até hoje morre gente com doenças que são conseqüência da bomba.
Com todos absolutamente arrasados no ônibus, Hiromi-san avisa que vamos pegar o ferry boat para a ilha de Miyajima, para ver o Tori Flutuante - patrimônio cultural da humanidade. Fiquei apreensiva com a idéia de pegar um barco naquela chuva, pensei que o mar estaria mexido, mas os mares internos do Japão são extremamente calmos - só mesmo com um tufão para a coisa ficar feia. A paisagem estava toda cinzenta, as fotos saíram como se tivessem um filtro. Chuva e vento = gente molhada, mesmo com guarda-chuva. Na entrada da cidade há um parque com veadinhos que vivem soltos, e os bichinhos se abrigavam como podiam, com uma cara de abuso imensa. Andamos para o templo e lá acontecia um casamento - de verdade! Como a cerimônia era em uma parte aberta, pudemos ver tudo. A noiva, o noivo e mais uns dez convidados, mais o monge e duas moças de quimono rosa que deviam ser assistentes ou madrinhas, não sei.
Sinceramente, tive medo que a noiva ficasse ofendida com duas ou três turmas de turistas do mundo todo olhando o casamento, tirando fotos e falando alto, mas, no fim, já casada, ela sorriu para o pessoal, fez sinal de paz-e-amor e parecia se divertir muito com tanta gente presente no seu casamento. Ela e o noivo usavam quimonos tradicionais, enquanto os convidados (ou parentes) usavam roupas ocidentais, ternos e tailleurs pretos. Havia um bebê e uma menina de uns cinco anos, filhos dos convidados (ou parentes).
A coordenadora do casamento de vez em quando olhava para a gente, mas estava bem compenetrada com as equipes de filmagem e fotografia. Alguém disse que chuva no dia do casamento é sinal de sorte para a noiva, pois traz fartura.
Muitos turistas no templo, ocidentais e orientais. Fred disse que também viu um casamento lá na outra viagem. Deve ser um lugar tradicional, pois é muito, muito bonito. Até debaixo d´água!
Por conta da chuva, a viagem foi mais rápida do que o normal, passamos por uma rua de lojinhas onde comprei um ímã da cidade e depois experimentamos o momoji, docinho típico da região, um bolinho em forma de folha, recheado com geléias, doce de feijão, chá verde ou chocolate. comi um de geléia de pêssego e Fred comeu de chocolate e vimos a máquina que faz os docinhos. Eram tão gostosos que me arrependi de não teer comprado mais.
Pegamos o ferry boat,voltamos para Hiroshima - que lembra, ao mesmo tempo, São Paulo - por ter muitos prédios novos, altos, cheios de luzes, muita gente na rua - e Recife, por ser plana e ter muitas pontes. Pegamos o trem-bala para kyoto e chegamos às cinco e meia da tarde, bem no horário do rush. Mais uma vez, o hotel é em frente à estação.
Descansamos do dia puxado (as roupas secaram no corpo, as pernas estão pesadas) e às oito fomos comprar alguma coisa para comer na estação, que é imensa e tem um shopping de 11 andares. Como fomos lá depois do rush, os kombinis estavam quase sem nenhum obentô e os sanduíches não deram cobiça, queríamos comida quente. Fred, exausto, não quis comer em restaurante e nos conformamos com um McDonald´s - ele pediu um quarterão duplo e, como esse mc donalds não vendia mc chicken (e cheddar só existe no brasil) fui de mc fish (fish filetto, aqui). Pedimos duas batatas grandes, voltamos pro hotel, comemos, tomei um banho demorado e vim contar como foi o dia.
Prometemos voltar ao Japão e visitar Miyajima num dia de sol :)
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ReplyDeleteQuando fomos para Hiroshima também estava chovendo. :-P
ReplyDeleteMas em Miyajima não choveu, apesar de nublado. Como dormimos lá deu para passear pela ilha com calma. Gostaria de voltar lá num dia de Sol só para poder ver a paisagem do mirante do teleférico. Diz que a visão de lá é linda no verão.